Trajes de Albergaria-a-Velha

Ainda que o século XX em Albergaria-a-Velha tenha sido predominantemente industrial, as atividades artesanais iniciadas em séculos anteriores deixaram a sua marca nos trajes associados às profissões rurais, artesanais e agrícolas. Por outro lado, e tal como sucede no concelho de Aveiro, as romarias e ocasiões festivas obrigavam a uma indumentária mais cuidada e rica. Destaque-se que tanto os trajes de trabalho como aqueles associados às festas e momentos de lazer se caracterizam pela profusão de elementos que, não obstante, compõem um conjunto harmonioso.

Feirantes

A posição privilegiada de Albergaria-a-Velha permitia aos seus habitantes dirigirem-se às feiras do próprio concelho e de concelhos vizinhos, nomeadamente de Aveiro e de Oliveira do Bairro, onde realizavam compras e vendas.

  • Chapéu vareiro;
  • Lenço de caxemira;
  • Blusa de chita;
  • Avental de popelina;
  • Saia de lã rapada;
  • Algibeira;
  • Chinelas de salto raso;
  • Saca de retalhos;
  • Xaile debaixo do braço.
  • Chapéu de feltro preto;
  • Camisa de linho;
  • Colete de lã;
  • Jaqueta de burel;
  • Calças também de burel;
  • Botas de atanado brancas com cajado e soga.

Mercadora de ferro velho

Num território onde as fundições representavam uma indústria de relevo, o ferro velho era encarado como uma matéria-prima, daí que houvesse pessoas dedicadas à sua procura e venda. Para além da indispensável balança vertical de mola, a mercadora envergava um traje particular, composto por:

  • Lenço de lã;
  • Blusa de pano sarjado;
  • Avental de riscado;
  • Cinta preta;
  • Saia de estamenha;
  • Tamancos de celeiro brancos.

Leiteira

A leiteira era uma presença habitual nas ruas de Albergaria, desde que raiava o dia, onde vendia leite aos habitantes, quer fossem pobres ou ricos. Por este motivo, preocupava-se com o seu vestuário, assim envergando:

  • Lenço de lã estampado;
  • Blusa de chita;
  • Saia também de chita;
  • Cinta preta;
  • Avental de popelineta.

Tremoceira

Tal como Aveiro, também Albergaria tinha tremoceiras típicas que andavam pelas ruas da vila ao domingo para vender os tremoços que as próprias haviam cultivado. As cores garridas do traje faziam com que esta figura se distinguisse, assim envergando: 

  • Rodilha, que corresponde a um produto de artesanato local;
  • Blusa de chita;
  • Saiote vermelho escarlate;
  • Faixa preta;
  • Algibeira;
  • Chinela de celeiro preto, sem meias.

Moleira

As moleiras eram provenientes, principalmente, de Vale Maior, Fontão e Angeja, mas percorriam todo o concelho em busca de milho e ocasionalmente também de arroz. Entregavam também o saco de farinha, designado por taleiga. O chapéu vareiro era um elemento eventualmente presente no seu traje, embora fosse certo que este apresentasse:

  • Lenço de lã;
  • Blusa de chita;
  • Avental de riscado;
  • Faixa preta;
  • Saia sarjada;
  • Tamancos de cromo pretos.

Moleiro

Para além das moleiras, também os moleiros tinham um traje específico, normalmente composto por:

  • Boné aos gomos com muita roda;
  • Camisa de riscado com peitilho;
  • Calças de cotim;
  • Colete igualmente de cotim;
  • Tamancos.

Barqueiro de Frossos

A proximidade de Frossos ao rio Vouga possibilitou a formação de um grupo de profissionais que se ocupavam do transporte de pessoas entre as margens do rio, numa embarcação (designada por bateira) com alguma fragilidade. O traje, partilhado com o do pescador do rio Vouga, era constituído por:

  • Barrete ou carapuça;
  • Boina;
  • Camisa de flanela;
  • Ceroulas de flanela;
  • Tamancos de cromo preto (embora, na embarcação, andasse de pé descalço);
  • Marreta de madeira para bater a estaca da amarração da bateira.

Trabalhadores do campo

O traje dos trabalhadores do campo era, necessariamente, composto por elementos práticos e úteis para o trabalho manual, exposto a quaisquer condições meteorológicas.

O traje da mulher incluía:

  • Lenço;
  • Chapéu de palha;
  • Blusa de chita escura;
  • Saia de tecido grosseiro;
  • Saiote de riscado;
  • Avental também de riscado com um só bolso;
  • Saia de ensacar com a corda;
  • Corda onde transportava a foucinha e a chave da porta.

O traje do homem era composto por:

  • Chapéu de palha;
  • Camisa de riscado com peitilho;
  • Lenço tabaqueiro no pescoço;
  • Calças de cotim arregaçadas;
  • Colete do mesmo tecido das calças, forrado a riscado;
  • Ceroulas à vista e atadas;
  • Cinta preta;
  • Tamancos.

Traje de trabalho da mulher

As mulheres que trabalhavam noutro meio que não o campo envergavam frequentemente um outro traje de trabalho, constituído igualmente por elementos simples:

  • Chapéu sem qualquer enfeite;
  • Lenço de lã;
  • Blusa de chita;
  • Avental de riscado;
  • Saia de cotim;
  • Cinta preta;
  • Tamancos brancos de celeiro.

Carvoeira do Fial

Em tempos idos, uma figura típica do lugar do Fial era a carvoeira que, para além do saco de linhagem que carregava à cabeça, cheio de carvão, usava o seguinte traje:

  • Lenço de lã escuro;
  • Chapéu de aba encostada;
  • Saia de tecido grosso de lã preta;
  • Avental;
  • Faixa preta;
  • Tamancos.

Traje de ir à fonte

Aquando do Toque das Trindades, as jovens raparigas de Albergaria pegavam no cântaro para ir buscar água à fonte, ocasião que lhes permitia também espairecer e conversar, frequentemente com o seu namorado. Em tempos, o principal chafariz de Albergaria localizava-se no largo da vila, no cruzamento das ruas principais e era aí que se reuniam jovens com trajes semelhantes entre si, com:

  • Lenço de lã estampado;
  • Rodilha;
  • Saia de lã;
  • Blusa e avental de chita;
  • Chinelas de salto raso.

Para ocasiões festivas e de lazer estavam reservados trajes mais cuidados, sendo, no entanto, notória a diferença de classes. Enquanto os mais ricos podiam recorrer a materiais de maior luxo, as classes menos favorecidas usavam esporadicamente uma peça de maior valor, trajando, no entanto, com claro brio. 

Romeira de condessa

A romeira transportava na condessa, frequentemente levada à cabeça, uma merenda para partilhar no âmbito das celebrações em honra de Nossa Senhora do Socorro. A condessa é sempre coberta com uma toalha de linho e, entre os elementos do traje, destacam-se:

  • Lenço de lã estampado;
  • Chapéu vareiro;
  • Blusa de seda com rendas;
  • Saia de chita;
  • Avental de popelina;
  • Cinta vermelha;
  • Algibeira;
  • Meias de algodão;
  • Chinelos de salto raso.

Romeiro

O romeiro acompanhava a esposa ou namorada à romaria, trajado com igual primor:

  • Chapéu de feltro preto, enfeitado, de um lado, com flores da época e, do outro, com a imagem de Nossa Senhora do Socorro;
  • Camisa de linho;
  • Colete com frentes de seda em relevo;
  • Cinta vermelha;
  • Calças de fazenda de lã preta;
  • Botas de atanado branco;
  • Cajado, especialmente usado durante a caminhada, onde levava pendurado o pipo de vinho.

Traje de ir à missa

Mesmo a mais humilde mulher do povo usava um traje especial ao domingo para se deslocar à missa, que era constituído por:

  • Lenço de seda branco atado ao pescoço e preso atrás com nó;
  • Blusa de piquê de cor branca;
  • Saia de acetinado preto;
  • Xaile de merino;
  • Meia rendada de algodão;
  • Chinela de salto raso;
  • Cartilha com o terço.

Tricana de Albergaria

Se as tricanas fazem parte do imaginário identitário de Aveiro, o vestuário destas senhoras influenciou também a moda albergariense. Aí, as tricanas trajavam da seguinte forma:

  • Lenço de algodão, lã, seda de cores diferentes ou cabeça descoberta;
  • Blusa de piquê ou popelineta;
  • Casaquinha e saia de lã de cor castanha;
  • Capoteira;
  • Meias de algodão;
  • Chinelas de verniz com salto alto.

Noivos

A cerimónia de casamento era, previsivelmente, um evento importante que requeria um traje especialmente cuidado.

Noiva

A indumentária da noiva incluía:

  • Lenço de cambraia;
  • Blusa de piquê branca;
  • Capoteira debruada a veludo;
  • Saia de armur seda;
  • Meias de algodão;
  • Chinelas de verniz com salto alto;
  • Pequeno lenço de cambraia que lhe permitia segurar na flor de laranjeira, ainda de botão

Noivo

Já o traje do noivo incluía os seguintes elementos:

  • Camisa de linho dotada de peitilho;
  • Colete de assafrim branco ou creme;
  • Laço preto;
  • Calças de fazenda preta;
  • Casaco também de fazenda preta;
  • Bota de calfe preto;
  • Chapéu de feltro com aba larga.

Traje de ver a Deus

As mulheres, em particular aquelas pertencentes a famílias mais abastadas, trajavam com esmero para assistir às cerimónias de culto religioso, fosse uma missa ou qualquer outro evento festivo. Aliás, esta era também a indumentária envergada durante a Semana Santa. Este traje rico apresentava:

  • Saia de brocado em seda de cor preta;
  • Casaquinha de pura lã bordada a sotache;
  • Blusa branca de piquê;
  • Meias de algodão;
  • Chinelas de salto alto de verniz;
  • Capoteira de lã preta debruada a veludo;
  • Lenço de seda estampado.

Lavradeira rica de Albergaria

Esta mulher, normalmente filha ou esposa dos lavradores mais abastados, vestia com maior luxo que as humildes lavradeiras, com tecidos e acessórios mais caros, nomeadamente:

  • Chapéu vareiro;
  • Lenço de seda com franjas;
  • Blusa de cetim;
  • Colete de lã com bandas pretas;
  • Abotoaduras de prata;
  • Capoteira debruada a veludo;
  • Saia de lã de cor castanha mesclada;
  • Chinelas de verniz com salto alto;
  • Meias de algodão.

Lavradores remediados do Sobreiro

No lugar do Sobreiro, pertencente à freguesia de Albergaria-a-Velha, residiam alguns lavradores com algumas posses mais desafogadas, o que lhes permitia usar um traje relativamente mais cuidado do que aquele que era envergado pelos restantes lavradores.

O traje da mulher incluía:

  • Chapéu de feltro de aba larga;
  • Lenço de caxemira;
  • Chambreque de cor acenourada com debrum e bordado a preto;
  • Saia de armur e algodão;
  • Bolsa de veludo;
  • Meias de algodão;
  • Chinelas de salto raso.

O traje do homem era composto por:

  • Chapéu preto;
  • Camisa de linho;
  • Colete castanho, debruado a fita ligeiramente mais clara;
  • Jaleca, igualmente castanha e debruada a feita ligeiramente mais clara;
  • Calças de fazenda de lã rapada de cor castanha;
  • Botas de calfe preto.

Romeiras

Apesar das poucas posses, as mulheres do povo prestavam especial atenção ao traje que escolhiam para participarem nas romarias de Albergaria e dos concelhos limítrofes. Este traje incluía:

  • Chapéu vareiro;
  • Lenço de caxemira;
  • Blusa de chita;
  • Saia igualmente de chita;
  • Cinta vermelha;
  • Meias de algodão;
  • Chinelas de salto raso;
  • Toucado, único item mais luxuoso.