Albergaria-a-Velha

Albergaria-a-Velha tem uma longa existência, anterior à fundação do reino. O sufixo de “Velha” indicia tal ancestralidade, devendo-se ao facto de tal localidade ter surgido antes de qualquer outra com a designação de Albergaria.
Reza a história que o seu nome se deve a D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, que, resolveu pernoitar em Osseloa, lugar à época pertencente a Gonçalo Eriz e que hoje corresponde a um bairro da cidade – Assilhó. Posteriormente, em novembro de 1117, Dona Teresa outorgou a Carta do Couto, onde cedia ao fidalgo aquelas terras, com a condição de que ali fosse erigida uma albergaria que acolhesse todos os viajantes necessitados de abrigo.
Note-se que aquela região era já ponto de passagem e mesmo de paragem para muitos que se deslocavam de norte para sul. Já desde o Século III os Romanos haviam consolidado a via XVI do Itinerário de Antonino como uma das suas estradas ibéricas mais importantes, passando esta pela célebre cidade de Talábriga, que algumas teorias creem ter-se localizado no território que atualmente corresponde à freguesia da Branca.

À Princesa Joana, que se encontrava no Convento de Jesus, em Aveiro, o rei D. João II, seu irmão, doou algumas das terras que hoje correspondem a parte do concelho de Albergaria-a-Velha. Por sua vez, a Princesa Joana legou as terras às Dominicanas do Convento onde estava recolhida. 

O século XIX albergariense é marcado por três acontecimentos:

  • em 1809, a terceira invasão napoleónica devasta o concelho mas aí encontra igual resistência popular, bem como uma eficaz reação do exército anglo-luso que derrota as forças francesas;
  • entre 1832 e 1834, as guerras liberais contaram com a participação de alguns ilustres albergarienses que se opunham ao absolutismo de D. Miguel;
  • em 1834, a desagregação de Albergaria-a-Velha do concelho de Aveiro, tornando-se assim sede concelhia. A configuração do concelho de Albergaria-a-Velha não corresponde, no entanto, ao concelho que hoje conhecemos.

É também no século XIX que começa a florescer em Albergaria-a-Velha uma pujante atividade industrial que se consolidará no século XX e onde a Alba é protagonista. Não obstante o fulgor industrial de outras indústrias desde o século XX, possivelmente nenhuma empresa teve ou virá a ter o papel que a Alba teve no desenvolvimento económico do concelho e no bem-estar da sua população, ainda que muitas outras empresas constituam também parte relevante do património industrial de Albergaria-a-Velha. Este legou ao município uma marcante herança social, contribuindo para a memória e identidade culturais de Albergaria, assumindo a Alba um lugar de destaque.

Alba

A origem da Alba remonta ao ano de 1921, quando Augusto Martins Pereira fundou a então mais moderna metalurgia portuguesa, Fundição Lisbonense (mesmo nome da fábrica que havia comandado nos Açores entre 1907 e 1920, ano em que vendeu a empresa e regressou ao Continente). Logo a empresa passou a chamar-se Fundição Albergariense, voltando a mudar de nome em 1923, designando-se por Sociedade Augusto Martins Pereira, Lda. Somente em 1929 é que a empresa passaria a se chamar Fábricas Metalúrgicas Alba, ou, simplesmente, Alba – marca com a qual ficou conhecida a nível nacional e também internacional.

A Alba foi uma indústria metalúrgica que produziu equipamentos para diversos fins, nomeadamente os icónicos bancos vermelhos ou verdes que se encontram em muitos jardins públicos do país. Da Alba saíram também produtos domésticos como ferros de engomar, louça, panelas de três pernas e fogões a lenha, assim como caixas de correio, contadores de água e tampas de saneamento. Muitos destes produtos viriam a fazer parte das casas portuguesas, mas eram também exportados para mercados africanos, europeus e mesmo para os Estados Unidos. A empresa chegou a ter 700 funcionários em simultâneo, na sua fábrica de 41 mil metros quadrados (18 mil de área coberta).

No âmbito cultural, o Cineteatro Alba é o exemplo mais emblemático. Inaugurado a 11 de fevereiro de 1950, o equipamento cultural era considerado um dos mais modernos de Portugal na altura. O seu legado permanece até aos dias atuais, atualmente administrado pela Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha. A forte consciência social e a primazia pelo desenvolvimento cultural do fundador da Alba não se ficavam pela obra construída, sendo também comum Martins Pereira subsidiar cursos de formação dos funcionários e adquirir livros para os filhos destes.

Em 1941, a família Martins Pereira criou o Parque de Recreio e Desporto Alba, aproveitando o espaço do Campo das Laranjeiras, que estava para ser devolvido ao senhorio, diante das dificuldades financeiras dos clubes locais. Com o equipamento desportivo, surgiu o Sport Clube Alba, que se destacava no futebol (masculino e feminino), mas incluía também outras modalidades como basquetebol e hóquei em patins, assim promovendo a prática de exercício físico. Augusto Martins Pereira foi o primeiro presidente do clube e o seu neto, António Augusto Martins Pereira foi jogador, presidente e diretor do clube. O SC Alba segue em atividade até hoje, e sua equipa de futebol disputa o Campeonato Distrital de Aveiro.

Um dos muitos bancos para espaços públicos produzidos pela Alba.
O primeiro carro de competição inteiramente português, projetado e construído pela Alba

Os descendentes de Augusto Martins Pereira respeitaram e prosseguiram com o seu legado, mantendo a vertente inovadora e social da Alba, cujo fundador viria a falecer em Maio de 1960, com 74 anos. A Alba encerrou no início do século, depois de alguns anos com dificuldades de adaptação no que diz respeito às técnicas de produção e maquinaria. 

A marca Alba, no entanto, não perdura apenas num lugar central na memória coletiva de Albergaria. Em 2014, Pedro Martins Pereira (bisneto do fundador da Alba, Augusto Martins Pereira) adquiriu a marca Alba através da empresa ProjectoAlba. Este projeto mantém vivo um catálogo de produtos da Alba e tem as suas operações funcionando nas instalações da empresa Larus (de propriedade de Pedro Martins Pereira), em Albergaria-a-Velha, junto ao Nó A25/IC2.