A nostalgia do passado será um tema transversal às músicas tradicionais de muitas regiões, constituindo estas já por si uma manifestação das saudades face a um tempo mais simples e previsível. Alguns dos elementos desse passado podem manter-se no presente (quer sejam a praia ou a avenida) mas muitos sofreram mutações e alteraram as vidas da população habituada a diferentes locais e práticas. A simplicidade do cantar do galo permite relembrar, no entanto, a genuinidade perdida.
Reportório do Grupo Etnográfico e Cénico das Barrocas
Onze janelas abertas
Ao fervor da nortada.
Avenida deita-se cedo
Ao jeito de mulher cansada.
Mil metros e neons,
Sonhos e algazarras,
Passeios e discussões
Muito bem apalavradas.
Foi-se o Avenida do Modesto,
A graça do Galego Blanco
Em vez do marco protesto
Puserem lá o Espírito Santo.
No Arcada, mais à frente,
Foi também a perdição.
O Belmiro deixou de ser gerente,
Abancou o Borges e Irmão.
O Trianon não escapou ao tempo,
Nem os apartes do Teixeira.
Das Tertúlias do Sacramento
Ficou a saudade inteira.
Fogo de junho na cidade,
Deixou o Beira-Mar queimado.
Mesmo ao lado do Trindade,
O Savoy das noivas encharcado.
O Soldado Desconhecido,
De todas as guerras, primeiro.
Tu, foste de bastão perseguido,
Num dia domingueiro.
O Sol d’Ouro ainda está,
O Galito vai-se mantendo.
O Zig ainda tá lá
De fronte, o cinema foi morrendo.
Reportório do Grupo Etnográfico e Cénico das Barrocas
Costa Nova, linda praia
Onde o mar sabe cantar…
Que lindas canções ensaia
Quando o Sol a vem beijar…
Oh Costa Nova do Prado
Como é belo o teu luar…
Anda sempre enamorado
Pela ria e pelo mar…
Voz do mar, rumor perdido
Dum amor que já passou…
Dum amor desiludido
Que nem saudades deixou.
Voz do mar, voz da saudade
Voz de terror, tanta vez…
Nela vive a ansiedade
Da alma do português
Em Setembro há romaria,
Hei-de comprar uma flor;
Hei-de cantar noite e dia
À porta do meu amor.
E, quando a festa findar,
E voltarmos p’ra cidade,
Havemos, ambos, rezar
Um rosário de saudade.
Reportório do Grupo Etnográfico e Cénico das Barrocas
Oh! Das camarinhas,
De três a um tostão.
Ai! Quantas saudades minhas!
Ai! Quanta recordação!
Amor, assim se desfolha,
Aos poucos por desenfado.
Se não caissem as folhas (BIS)
Nunca haveria passado.
Refrão:
Canta o galo é madrugada,
Tudo canta na revista
Alegre e bem temperada.
Rapazes e raparigas,
Entoam suas cantigas
E o galo arrebita a crista.
Canta o galo é madrugada,
Acorda agora a cidade
Buliçosa e descuidada.
E o nosso maior regalo
É ouvir de novo o galo… (Có-Có-Ró-Có-Có)
Num có-có-ró de saudade.
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